terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Sonata de Outono


Sonata de Outono é um filme magistral.

A dor torna-se por vezes quase insuportável. Como explicar a uma mulher que deve amar as suas filhas? Como fazer prevalecer laços que não existem ou que um mundo inteiro se empenhou em destruir?

Texto intemporal num filme que Ingmar Bergman torna igualmente intemporal: a luz, os planos, os diálogos, os silêncios, as lágrimas. O que faz uma mãe chorar ao ouvir a filha tocar piano senão a emoção ao descobrir talento numa mulher que repudiou? A impossibilidade de elogiar é profundamente cruel. Creio, no entanto, que o mais interessante será o jogo de amor-ódio que se amplifica com o avançar da trama. A profundidade da personagem da filha servil, os olhos atentos do marido que não deixa de incarnar uma espécie de voz da consciência do filme, os gritos aterradores da rapariga doente que só a irmã compreende. Fica aliás a dúvida se realmente compreende ou se finge compreender para magoar a mãe e lhe mostrar como tudo o que lhe devia ser familiar, lhe é na verdade alheio. E uma dor constante.

A mãe foge. E a filha ainda lhe escreve para pedir desculpa. Manobra desconfortável que deixa o espectador inquieto: a "vítima" suplica amor à "criminosa". E pede-lhe uma oportunidade mais para lhe mostrar que gosta dela.

Se a imagem de um círculo vicioso é inquietante, o filme de Ingmar B. e o olhar de Ingrid B. dão uma nova dimensão à palavra inquietude.

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