terça-feira, 9 de março de 2010

Ele diz que... ele quem?

Incrível: hoje esteve sol em Lisboa!

"Menina, já viu o dia que está hoje? (a senhora do café para mim); "Pois, está lindo". "Ai filha, mas olhe aproveite porque isto é sol de pouca dura. Lá para sexta ou assim já volta a chuva c´a gente já nem sabe de que terra é." "Pois, se calhar"; "Ai não que não é [e o sobrolho que se franze]... qu´isto eles só se enganam ao contrário. A gente sai de casa a achar que vai estar um dia lindo, e depois está esta porcaria do costume. Por isso é que eu já nem vejo lá a televisão, só as novelas. Mas depois os fregueses põem-se a comentar e... olhe... eu tenho que ouvir [ombro que se encolhe devagar]".

Questão nº 1: quem são os eles deste discurso? Quem é o ele doutros tantos? Todos sabemos que os portugueses acham que há uma conspiração contra eles... mas assim tão grande? Ou seja, de tal forma que constitua uma entidade "inominável"? Ai isso eles é que sabem... eles QUEM?

Note-se que o pronome pessoal assume aqui uma espécie de sinal de inferioridade, estilo eles, os que estudaram e têm o incrível privilegio de possuir conhecimento. Ou eles, os que não andam aqui a trabalhar com´à gente.

Melhor ainda: ele diz que... para na verdade querer transmitir que se diz por aí. É um pouco como se a multidão assumisse uma vontade singular, só que a utilização é bem mais prosaica.

S-I-N-I-S-T-R-A, esta utilização da bonita palavra ele e da sua forma plural eles.

Ele diz c´a menina do Paulino lá da terra até tem uns olhos bonitos.
Ele diz c´a Soraia é uma moça aplicada, xe calhar até vai para dôtôra.
Ele diz c´o rosmaninho faz bem ao rumático.

Ele diz que... ele diz que... e ELA nunca diz nada??????

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